quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Hm...vamos lá. Séculos que eu não posto aqui, mas é sempre bom, uh? Eu nem sei como anda Kolguev, mas um personagem que nos marca e que nos é importante não pode ser esquecido. Prova disso é que a senhorita Samantha Flyweather ainda vive em meus pensamentos e num assomo de nostalgia, a Gahzita psicopata-mor-já-não-tão-psicopata-assim começou a escrever um RP (que muito provavelmente nunca vá existir) e resolveu postar aqui =D

Ei-lo.


A única voz que não se pode calar é a que vem de dentro de você mesmo.

Você a quer. Quer possuí-la, ver seus fios de cabelo finos e brilhantes escorrendo por seus dedo, apreciar a sinfonia dos seus gritos mais cheios de dor e desespero e observar as feições que lhe tomam o rosto ao proferir seu último suspiro. Você almeja ter a incomparável sensação de cortar o fio da vida de uma pessoa e acima disso, nesse momento você a quer, não é mesmo, Samantha?


E se realmente for?

Faça. Você tem o poder.


*


A primeira vez que percebi sua presença tão intrigante, questionei-me se de fato não estava diante de um quadro deveras real, algo como uma obra de arte incomparável oriunda de uma mente tomada pelo romance, mas foi necessário apenas o infinito que habita no intervalo de um piscar de olhos para que eu compreendesse tudo. Eu já havia visto-a anteriormente, mas –Uma lástima!- jamais dedicara-lhe um instante de atenção.

Claro que eu ainda me recordo vividamente de cada detalhe. Ainda hoje sou capaz de sentir o seu aroma no ar, a inquietação anormal que se formou dentro de mim e o brilho dos seus cabelos contra a chama de uma das velas que flutuavam ao seu lado.

Dentre as centenas de alunos da escola de Magia e Bruxaria de Kolguev, meus olhos teimosos trataram de recair justamente sobre sua face de traços delicados. As muitas cabecinhas atacavam ferozmente o jantar servido pontualmente pelos elfos às oito da noite, mas algo dela parecia irradiar encanto: seu modo leve de portar os talheres ou o jeito gracioso como levava a comida aos lábios finos e rosados. Eu mesma deleitava-me no sublime pudim de passas e agora tenho lá minhas duvidas se naquele instante realmente apreciava mais a visão de Serena Hellfire ou a textura leve e adocicada do pudim que derretia ao entrar em contato com a minha boca molhada.

Faz-se necessário de que eu gaste mais um ou outro minuto da minha vida mortal para descrever-lhe - ah, quão pecaminoso não seria deixar escapar um mero detalhe de sua beleza irradiante! Serena Hellfire, aluna no quinto ano da Kyentavr, estava sentada na mesa ao lado da minha. Um rosto translúcido e de traços tão leves e delicados que num primeiro instante eu poderia ter imaginado ser esculpido em uma pedra de mármore por mãos angelicais (nenhuma mão humana teria tal precisão) emoldurava-se por uma cortina de fios vermelhos incandescentes. Brasa e gelo não apenas coexistindo, mas entrando em uma harmonia surreal.

Ao engolir a última colherada do pudim foi que eu compreendi. Eu a queria exatamente da mesma forma obsessiva que, no auge da minha infância, eu queria as bonequinhas de porcelana que meus pais compravam não só para satisfazer meus caprichos, mas principalmente para tentar suprimir a ausência que exerciam na minha vida.

Papai e mamãe... Idiotas que entregaram cada minuto de suas vidinhas imprestáveis à carreira medibruxa enquanto eu tinha de aprender a me virar sozinha – aprender a ser melhor do que qualquer um deles jamais seria. A história era sempre a mesma; o casal Flyweather viajava durante meses e ao retornar, eu ia recebê-los com meu sorriso mais adorável, minhas manhas e encantos a fim de ganhar de novos presentes. Bem... a única diferença entre mim e as outras garotas é que eu preferia destroçar lentamente cada uma das bonequinhas de porcelana.

A história iria se repetir e dessa vez o brinquedinho em minhas mãos seria muito mais divertido. Era um brinquedo vivo.